Qual é o significado da mata para @ Guarani?
Na terça-feira,
12 de abril de 2016, o projeto de extensão Mediações Culturais do grupo
Revitalizando Culturas levou alun@s da UNISUL à Aldeia Itaty para uma vivência
muito especial com @s guarani e o pessoal do Instituto Çarakura.
A vivência proposta de fazer uma
trilha e compartilhar o significado das plantas para @s guarani fez parte da
programação da 11ª Semana Cultural Indígena – Mbyá Yvyrupa Reko, que começou no
dia 11 de abril e acabará no dia 18, com a homenagem ao Xeramõi Adão Karai.
Início da trilha do Morro dos Ancestrais: guaranis, çarakuras e acadêmicos da UNISUL |
Aula bilíngüe –
guarani-português no Morro dos Ancestrais
@s kyringue (crianças) acompanharam
o professor guarani João Batista
Gonçalves para aprender - em guarani - o
significado tradicional sobre as plantas, enquanto a professora Eunice Kerexu Yxapiry
fazia a tradução em português, contando também algumas das histórias
tradicionais para os juruá (não-índios). Os representantes do Instituto
Çarakura contribuíram com muitas informações científicas ou sobre o uso popular
das plantas na região.
Eunice Kerexu Yxapiry e João Batista Gonçalves |
Estudantes de Naturologia da Unisul |
O objetivo final da caminhada era a grande árvore sagrada AGUAÍ, cujos frutos são comestíveis e as sementes usadas em artesanatos. A árvore é uma marca dos territórios guarani. Como muitas plantas, a AGUAÍ tem seu significado que remonta a uma história narrada pelo casal de professores guarani.
O mito de AGUAÍ.
Em busca da semente de Aguaí |
Tudo
começou quando a mãe do Sol e do Lua deixou de existir. Então, o Sol, como
irmão mais velho cuidava do Lua, criando árvores frutíferas – como a jabuticaba
- e alimentando seu irmão com o suco destas frutinhas. O Lua era bagunceiro e
teimoso. Certa vez, o Sol foi atravessar um rio e seu irmão mais novo,
bagunceiro, não o seguiu e perdeu o barco. Ficaram, daí em diante, separados
por um rio. Onde ia o Sol, o Lua ia também, só que na outra margem do rio.
Então, o irmão mais velho resolveu criar a AGUAÍ e instruiu O Lua desta
maneira: asse os frutinhos, mas não jogue a semente no fogo. O Lua, teimoso,
certo dia estava comendo AGUAÍ assado e jogou a semente no fogo. Bum! Aconteceu
uma grande explosão e o Lua, despercebidamente foi parar na outra margem do
rio, junto ao seu irmão! O Sol, sabendo de tudo, criou esta planta com este
propósito de unir novamente os dois. A frutinha é amarela e redonda, a semente
é no formato de meia lua.
Semente encontrada por Kerexu |
Em conversa com Eunice Kerexu.
Andréia do Instituto Çarakura comenta que “as pessoas que estão numa busca, procuram
ter uma visão espiritual das plantas, mas para o guarani não, isso é inerente. Nós
fazemos um esforço para perceber a conexão; a gente vê o Aguaí como uma madeira
boa que dá pra fazer um barco, etc. Para vocês tem outro porquê como aquela
outra planta, a Mamica de Cadela que você falou lá embaixo.... Tem um por quê,
porque que com ela se faz um petynguá (cachimbo). Então essa forma linda de
contar - de que ela se relaciona com o sol, se relaciona com a lua, é uma visão
mais holística mesmo. E uma planta está muito relacionada com a outra. Dá um
significado para existência e uma conexão entre as coisas.”
Acadêmicos da Unisul e do Instituto Carakura |
Observamos que este significado profundo, holístico está presente nos estudos sobre mitos de grupos étnicos de Lévi-Strauss: “Para Lévi-Strauss, o mito parte do mundo dos sentidos: ‘o mundo que se vê, que se saboreia’. Esta forma de apreender a realidade foi a que a ciência teria tornado um tanto quanto obsoleta. Tal posicionamento se firmaria na premissa de que: “o mundo sensorial é um mundo ilusório, ao passo que o mundo real seria um mundo de propriedades matemáticas que só podem ser descobertas pelo intelecto e que estão em contradição total com o testemunho dos sentidos.” (LÉVI-STRAUSS, 1978, p. 15) O mito e o rito, escreve Lévi-Strauss, não são simples lendas fabulosas, mas uma organização da realidade a partir da experiência sensível enquanto tal”. (João Paulo Aprígio Moreira)
Com estas reflexões encerramos o momento
de partilha de saberes, contato com a mãe Terra e muitas risadas. Não poderia
ser diferente: onde tem kyringue tem muita alegria!
Juruás agradecidos e Árvore de Aguaí |
Por: Rafaela Iwassaki, extensionista do projeto Mediações Culturais
Grupo de
Ensino, Pesquisa e Extensão, Revitalizando Culturas
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