Espiritualidade no timing da vida, Espiritualidades e democracia participativa
Jaci Rocha Gonçalves*
Car@s leitor@s. Arrisquei dizer em janeiro que 2016 exigia muita espiritualidade. Pura verdade. Nos fins de abril, o inesperado me convidou para participar no programa SBT e Você, sobre espiritualidade e política, no dia de Tiradentes. Com sabedoria, a jornalista Marja Nunes me pergunta sobre o que de novidade os livros de história não contam sobre ele e os Inconfidentes e sobre sua relação com nosso hoje político turbulento.
Fiz três observações. Na primeira, lembrei que
a espiritualidade libertadora do século 18 foi mais ampla. No arco de 100 anos,
foram assassinados três líderes. Aos 45 anos, o líder negro Zumbi dos Palmares
teve o corpo esquartejado após traição de seu companheiro Antonio Soares, em
1695. Destruiu-se, assim, 100 anos de luta no Quilombo pela dignidade dos povos
de etnia negra, a maioria forçada a sair da África.
Vinte anos depois, em 1717, a imagem negra de
Nossa Senhora Aparecida foi pescada no rio Paraíba como aliada na mesma luta pela
dignidade escravos e brancos pobres e com apenas 25 anos, São Sepé Tiaraju,
líder guarani dos Sete Povos das Missões também é assassinado pela união
oportunista dos exércitos arquiinimigos de Espanha e Portugal contra os
indefesos povos originários, em 1756 nas terras gaúchas.
Observei, então, que os Inconfidentes fecham
esse arco secular de 1695-1792 de líderes mártires e degredados devido às lutas
pela dignidade da vida de todos que habitam nosso chão. Desta vez pela
libertação de brancos pobres, indígenas e negros escravizados na Capitania de
Minas Gerais. Tiradentes é filho de portugueses. O menino Joaquim José de Vila
Rica ficou órfão aos 12 anos, trabalhou como mineiro, farmacêutico, dentista e
militar.
Seus amigos formam uma equipe
multidisciplinar: sacerdotes, comerciantes, literatos, poetas, políticos e
juízes. Todos sonham um Brasil com a recém-nascida democracia gestada e resumida
nos ideais da liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa de 1789.
Mesmo ano em que os Inconfidentes foram presos após a traição de Joaquim
Silvério dos Reis sob promessa de regalias, cargos e anistia de dívidas. Tiradentes, com 45 anos, é enforcado três anos
depois, em 1792. Seus companheiros deportados para a África. Todos pagaram o
alto preço da Espiritualidade ética na política.
Na terceira observação, a jornalista mesma
ligou essas lutas por democracia com nosso momento histórico. Eu lembrei que a
nossa esperança reside nas crianças, jovens e adultos que vivem a democracia
participativa nas organizações populares de vizinhança: grupos de igreja,
catequese de adolescentes e jovens, pastorais, conselhos de saúde, associação
de moradores, de pais e professores, sindicatos, partidos políticos, vida
universitária, etc. Porque é nesses topoi
(lugares) que a utopia factível da democracia participativa cultiva suas
sementes.
Ao final do programa, festejamos cinco
coincidências com a Unisul Pedra Branca: Marja Nunes, a apresentadora, Alexandre
Beck, escritor de Armandinho 7, Pedro Kuhnen, o repórter; Evelyn Yara dos
Santos, na mesa de produção e o sociólogo e mestre em jornalismo Fernando
Evangelista, assessor de imprensa da Barca dos Livros Biblioteca. Tod@s estudaram
conosco na Unisul.
Senti neles, mais uma vez, a força das
sementes e que a verdade do viver é como uma olimpíada difícil, por isso mesmo,
fascinante. É como escreve o servo de Deus Hélder Câmara quando diz que o
“deserto é fértil!” Verdade assinada também pela espiritualidade das mães em
maio.
Então, amig@s, vamu q vamu.
*Padre Casado, Doutor em Teologia, Filósofo,
estudou comunicação no Vaticano e é professor da Unisul.
Comentários
Postar um comentário