Espiritualidades no timing da vida

Espiritualidades no timing da vida

Francisco: Um papa SSD, sem papas na língua

Escrito por: Jaci Rocha Gonçalves

Espiritualidades no timing da vida é nosso novo pré-título da crônica quinzenal porque significa o tempo não medido pelos relógios, calendários e cronômetros. É como o kairós dos egípcios e gregos prá indicar o tempo oportuno, como quando a colheita dos frutos está no ponto e as pessoas sentem momentos marcantes na vida. Como no reencontro-surpresa de uma pessoa amiga, mesmo no Face, que reduz 50 anos na sensação de tê-la visto ontem à noite. Tenho experimentado muito isso, graças ao virtuoso no virtual; são encontros de espiritualidade terapêutica porque refazem sentidos de viver e de conviver, nos sacodem e nos acordam da mesmice do cotidiano.

É o caso de pessoas como o papa Francisco com seu efeito-surpresa regenerador de valores esquecidos até por pessoas com rótulos religiosos (como o colega debatedor religioso que o criticava como popstar - caçador de fama e glamour - um “comunista” disfarçado em amor aos pobres). Pena que o fez no minuto final do debate. Em tempo de escassez de lideranças autênticas deve ser mesmo desconcertante para os pessimistas, mesmo sob títulos de religiosos, serem surpreendidos por uma autoridade espiritual que se diz “aquele que vem do fim do mundo”,  que pede a bênção e preces a seu povo; que distingue a pessoa de seus estereótipos como “separada”; “divorciado”; “gay”; “imigrante”; “favelado”; “índio”, etc.

Após o debate, reli o que disse Francisco nos 50 min de entrevista à queima roupa na viagem de retorno de Cuba e EUA. Sobre o sucesso: “Não sei se tive sucesso ou não. Mas tenho medo de mim mesmo, porque me sinto sempre – não sei bem como dizer – fraco, no sentido de não ter poder; É importante se, com o poder, consegues fazer algum bem. E Jesus definiu assim o poder: o verdadeiro poder é servir, prestar serviço, fazer os serviços mais humildes. E eu tenho ainda de avançar por este caminho do serviço, porque sinto que não faço tudo o que devo fazer”.

A última jornalista lhe diz: “É bom para a Igreja que o Papa seja uma estrela, uma star?” Francisco foi gentil, mas também direto: “Sabes qual era o título que usavam os Papas, e que se deve usar? “Servo dos servos de Deus (SSD)”. É um pouco diferente de estrela! As estrelas são bonitas quando as olhamos; eu gosto de olhar para elas, quando o céu está sereno no verão... Mas o Papa deve ser – deve ser! – o servo dos servos de Deus. Sim, na mídia, usa-se o termo “star”; mas há outra verdade: quantas “star” vimos nós, que depois se apagam e caem... É uma coisa passageira. Pelo contrário, ser servo dos servos de Deus (SSD), isto é belo! Não passa. Não sei que mais dizer. É assim que eu penso.”


E com firmeza serena de avô espiritual da humanidade, Francisco faz coisas simples, mas inéditas, como canonizar o casal Luís e Maria Zélia, pais de Santa Terezinha. É sábio como nosso povo ao curtir a Festa de Todos os Santos e Finados; mostra aí sábia rebeldia que garante a dignidade dos que convivem na  rotina sagrada de nosso vai-e-vem cotidiano. 

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