Espiritualidades no Timing da Vida: Deusas Olímpicas, Maria e as Marias
Jaci Rocha Gonçalves*
Fato
relevante de maio de 2016: a tocha olímpica. Pode ser visto como um rito de
espiritualidade. Saiu de Olímpia, a cidade de deuses e deusas gregas em 27 de
Abril. A tocha atualiza o mito de Prometeu quando rouba o fogo de Zeus para
apoiar os humanos. O fogo olímpico foi levado por Ibrahim Al-Hussein, 27 anos,
eletricista e garçom, em sua cadeira de rodas, no campo de refugiados sírios de
Eleonar, periferia de Atenas. Depois, continuando o espírito olímpico, foi
levada pelo refugiado afegão que tem o filho bebê no colo e uma súplica na aba
do boné: “Open the bordes” – Abram as fronteiras! Os refugiados ocupam a vila
olímpica, que ficou no abandono após as olimpíadas de 2004.
A
tocha já percorre o Brasil desde 3 de maio, mês de ternura das mães e, na
tradição cristã, a memória de Maria, mãe de Jesus. Aquela que fala de paz em
português, em Fátima, animando crianças em pânico de guerra. Daí o 13 de maio,
de Nossa Senhora de Fátima. Não é à toa que a tradição cristã (mas também
judaica, muçulmana, chinesa e guarani) têm um xodó todo especial pela mãe de
Cristo. É a única mulher com direito a um templo para reflexão entre os
muçulmanos.
Em
nossa realidade carente de cuidados com a vida dos mais frágeis, é consoladora
a notícia dada esses dias pelo IBGE de que o nome mais comum entre as mulheres
brasileiras é Maria, com 11,7 milhões de pessoas; e o segundo é Ana, nome da vó
de Jesus, com 3,8 milhões. Por que a preferência?
Talvez
porque, diferente das deusas do Olimpo, às Marias interessa alguém semelhante a
elas, misturada no cotidiano exigente, sem perder a graça. Bem parecidas com o
significado mais comum de Maria, entre cem, no original hebraico Miriam: aquela
que enfrenta o mar quando o mar está brabo. Bem do jeito de Maria, de nossas
mães e dos surfistas.
A
garra dessas guerreiras inspiradas em Maria eu conheço muito bem pela vivência
nas comunidades em quase 50 anos. Elas fazem permanente a decisiva política
biocrática. São jovens aprendizes universitárias, são mães e operárias, avós e
incansáveis, interferindo na participação política cotidiana, do Planalto, com
a primeira presidenta da nossa história exercitando a governança até a fronteira
mais distante.
Aí
a tocha da olimpíada da vida não se apaga. Essas Marias que seguem a atleta da
Galiléia que, grávida, enfrentou caminhos difíceis para cuidar da velha prima
Isabel. Repetem na própria pele aquele jeito decidido da mulher que, de pé,
estava de plantão no drama da cruz. Então, vamu q vamu cantando: “Maria, Maria
é um dom, uma certa Maria, uma força que nos alerta!”
*Padre Casado, Doutor em
Teologia, Filósofo, estudou
Comunicação no vaticano e
é Professor da Unisul.
Publicado
originalmente no
Jornal Cotidiano Pedra Branca
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