Quando você ouve o Invisível?
Quando
você ouve o Invisível?
Escrito por: Jaci Rocha Gonçalves
Escrito por: Jaci Rocha Gonçalves
Acompanhado
de outro sexagenário jornalista, do meu filho mais velho e do amigo Danilo,
amanheci na Orionópolis Catarinense, uma conhecida vila que abriga moradores
com plurideficiência e em estado de abandono. Abrindo o portão estava o Tico,
já cinqüentão, a nos acolher. Ele foi um dos primeiros moradores, oriundo do
Saco dos Limões, em 1991. A Orionópolis fica às margens da embocadura do rio
Maruim, do lado de São José, na divisa com Palhoça.
Meu coração
estava disparado. Era sábado, dia 5 de setembro de 2015. Fui convidado a
palestrar no ENAJO – Encontro Nacional da Juventude Orionita. No grande pátio,
entre os jardins, vários ônibus que chegavam desde a aurora. O coordenador do
ENAJO, antes de me dar bom dia, já foi desabafando: “Estou impressionado
com a espiritualidade dessa juventude. Ao longo da viagem, desde o interior
paulista até aqui, achavam jeito de rezar de mil maneiras, maninho!”
Olhei,
então, para a Pedra Branca à minha frente e o Cristo da Esfinge me piscou,
assim como fizera tantíssimas vezes desde o início dos mutirões para construir
aqueles lares e acolher quase duas centenas de moradores descartados pela
sociedade. No salão, uma banda animada ditava o ritmo para os jovens dos 15 aos
23 anos, com a pilha toda.
O papo
se inspirou em São Luís Orione (daí o nome Orionópolis), dando dicas para
o tema FORTES NO AMOR. Seguimos o roteiro do longametragem Algo de Dom Orione,
prêmio do cinema italiano em 1990, o qual recuperamos na Unisul. O cineasta
Ermano Olmi revê a vida do santo focando seu exílio na Argentina dos 64 aos 67
anos e seu regresso à Itália, onde morreu em 1940, aos 68 anos.
A
primeira dica foi a determinação do santo ainda adolescente de cultivar o AMOR
FONTAL. Sobre esse tema, um dos jovens participantes me mandou esse e-mail,
após o encontro.
“Qual é
a fonte do amor? Pela revelação cristã, Deus não só ama, mas Ele é amor (I
Jo 4, 8). Há diferença entre amar e ser amor. E para haver amor há necessidade
de relação: o Pai que ama e se doa eternamente ao Filho Jesus; e o Filho Jesus
que ama e se doa eternamente ao Pai. Dessa relação de entrega do Pai e do Filho
brota o Espírito Santo, Senhor da Vida! Portanto, Deus revela seu mistério
e identidade como uma eterna comunhão de amor! E nós, também fomos criados à
‘imagem e semelhança’ (Gn 1, 27) deste Deus que é comunhão de amor. Então,
somos criados como um derramamento de amor e para a comunhão de Amor! O
céu é participarmos dessa comunhão eterna de Amor. E já começa aqui e agora, no
relacionamento com os meus irmãos. Por isso Jesus nos diz: ‘Que vos ameis uns
aos outros, assim como Eu vos amei!’ (Jo 15, 12). O amor é uma escolha que,
inspirado no amor de Deus, vai além das limitações da concupiscência
(tendência ao pecado, ao egoísmo) e nos permite encontrar aquilo que há de mais
sagrado em nós. Pela oração acesso sempre o Amor Fontal”.
Não
acreditei no que li. Como o Sant’Orione, o garoto também se posiciona
como alguém de FÉ que se dá o direito de viver como se visse o
invisível. Ele se dá tempo suficiente e hábito de viver, ouvindo seu Deus em
meio a toda a parafernália eletrônica.
Vale a
pergunta: Quanto tempo e quando cada um de nós ouve e se entretém com o
Invisível? Desde garoto, Orione quer se doutorar na ciência do amor ao próximo.
E não vai só. Reúne a turma do outro lado do rio da cidade de Tortona, o bairro
dos pobres, dos comunistas, dos que não contavam e eram vistos como perigosos.
E a terceira dica do santo no filme é a vivência da virtude da ESPERANÇA.
Orione desafia desafios, inventando sempre saídas criativas.
O caos
para ele é fértil. Enquanto o navio se afastava do cais do porto italiano de
Gênova para levá-lo ao exílio na América Latina, escreve esse bilhete:“Hoje
tenho uma vontade enorme de dançar: - haverá dança no Paraíso?Sabemos que
existe música, deve existir dança também: eu quero cantar sempre e dançar
sempre. Se preciso, Nosso Senhor me dará uma sala especial para não perturbar
muito os contemplativos. Estou feliz porque no Paraíso haverá sempre festa: e,
nas festas, existe sempre alegria, cantos, danças, em Deus... Eu quero manter
todos alegres: cantar e dançar sempre. Que me conheçam como o santo das danças,
das canções e da alegria em Deus”.
É claro
que nossa oração final foi dançando o refrão do samba: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a
beleza de ser um eterno aprendiz, ai Meu Deus! Eu sei...”
*O DVD com o filme “Algo Sobre Dom Orione”, pode ser adquirido no
Revitalizando Culturas (Unisul Pedra Branca) ou na Orionópolis Catarinense.
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