Pedra Branca e a Espiritualidade da Montanha III
Artigo publicado no Jornal Cotidiano Pedra Branca
A
esfinge do Cristo na Pedra Branca.
Espiritualidade da
Montanha (III)
O faro jornalístico de curiosidade do
repórter sexagenário sobre minha relação com a Montanha Sagrada da Pedra Branca
aflorou de vez quando lembrou a pauta da face de Cristo estampada no frontal da
pedra do morro.
A essas alturas, a mídia escrita e
televisiva já transformara a Missa da Primavera em notícia regional. Chegou a
reunir 2.500 pessoas e rendeu até capa nos maiores jornais do estado, como se
vê no documentário. Porque o morro da Pedra Branca exerce fascínio e seduz os
olhares de todo o seu entorno. É um ponto ótico charmoso que atrai olhares de
todas as janelas de prédios, casas, ônibus e na rota de aterrissagem dos aviões.
A Pedra Branca invade todas as retinas que se movem na Ilha quando de costas
para o Atlântico.
É um ponto ótico ideal para uma
grande imagem religiosa. Os mais velhos contavam-me que também nessa montanha um
frei rezava missa na década de 40 pedindo pelo fim da segunda guerra mundial,
como no Morro do Anhangava do Paraná. Como em 1987 lembrávamos os dois mil anos
de nascimento de Nossa Senhora, a mãe de Jesus espalhou-se a ideia de
homenageá-la com sua imagem no alto da Pedra Branca ou de seu filho cujas as
festividades estavam às portas. Havia também alguns políticos com esquema pronto para colocar uma
imagem do Cristo Redentor lá encima já que a região não tinha seu Cristo na
montanha, apenas a cruz no Morro da Cruz.
Num daqueles dias fui rezar uma missa
aos pés da pedra branca, em um escritório com muitos trabalhadores. Ao final,
eles me presentearam com uma foto curiosa tirada de sua janela de trabalho em
que se via nitidamente a esfinge do Cristo Redentor da Pedra Branca. Aparecia o
rosto de Cristo no frontal da pedra. Faz uns 15 anos que fixei a foto na minha
sala do Revitalizando Culturas com a legenda: a esfinge do Cristo na Pedra
Branca. No ano 2000, ela foi capa do jornal
laboratório de focas de jornalismo do Curso de Comunicação Social da Unisul do campus
da Pedra Branca.
Mostrei, então, a foto ao povo numa Missa
da Primavera no final da década de 80. Meditamos, pensando que, de repente, a
gente não precisava levar o Cristo lá pra cima, porque sua imagem já estava
esculpida no frontal da própria montanha.
Não seria um convite a preservar a natureza em seu modo natural de ser? E
pensar que o papa Francisco ainda não tinha escrito a sua encíclica ousada Laudato sii (Louvado sejas) sobre o
cuidado da Casa Comum como direito de todos ao exercício de proteção ambiental.
Porque a montanha também tem sua
história, autonomia e missão. Ela é uma mensagem a ser decodificada. Na ocasião,
os projetos de teleférico, urbanização e trilhas de MotoCross começaram a ser
questionados pela comunidade soando como ruídos contra a ternura da Pedra mantida
por milênios como um santuário natural. Aí o repórter me disse que os cientistas
provam a existência da Pedra Branca em mais de 120 mil anos, incluindo todo o
histórico de regressão marinha.
Ao redigir essas linhas fitei o Cristo da Pedra Branca. Perguntei a Ele se
também andava preocupado com as formas de construção do Anel Viário, com o
descuido das famílias atingidas e a preocupação com as nascentes. O que achava
dos mais de 10 rios afogados pela voracidade imobiliária entre o Rio Maruim e o
Cubatão. Aí eu já me peguei chorando como velho sonhador que recebera o título
de cidadão palhocense ainda na década de noventa. Eu lhe pedi, por fim, a graça
de refazer nossos olhares de cidadania ativa no seu olhar de rezador e de messias
crucificado na montanha. E que nas planícies insistíssemos na arte de amar como
Ele amou.
Jaci Rocha Gonçalves é Padre, Doutor em Teologia, Filósofo, estudou comunicação no Vaticano e é professor da Unisul.
Jaci Rocha Gonçalves é Padre, Doutor em Teologia, Filósofo, estudou comunicação no Vaticano e é professor da Unisul.
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