[Vivência] 1º Mutirão de Bioconstrução da Escola na Aldeia Yakã Porã
Foto Bianca Taranti
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O
Mutirão de Bioconstrução aconteceu dentro do 13º UniDiversidade da Unisul
Campus Pedra Branca, idealizado pelo professor de Economia Solidária da EAD/UNISUL, João Antolino Monteiro, da organização do Reciclo, junto com o
professor Dr. Jaci Rocha Gonçalves, coordenador do Revitalizando Culturas e
pela cacique da aldeia Elizete Antunes. Autoridades e comunidade indígena,
docentes e acadêmicos da Unisul e outros voluntários reuniram esforços para
realizar a bioconstrução da escola indígena na Aldeia Yakã Porã.
Os
voluntários ajudaram na retirada da argila no solo, enquanto alguns amassavam o
barro com os pés, outro grupo colhia as palhas de pinheiro. Essa combinação dos
materiais, quando misturados, dá origem ao cimento natural que é utilizado para
preencher as paredes da nova escola. A cacique Elizete Antunes deu uma aula
sobre como as construções Guarani são feitas.
Foto Bianca Taranti
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Os
materiais coletados para dar origem à escola, em sua grande maioria, provém do
próprio território da aldeia. Quando os indígenas não conseguem obter os
materiais da mata, como no caso da palha, própria para a construção do telhado,
eles recorrem a outras alternativas como a telha de amianto, para cobrir a
estrutura da escola, assim como a madeira usada para a vigas.
“Nós
tivemos que usar como vigas a madeira de pinheiro, porque é o material nativo
que encontramos, mas o material mais correto para nossa construção seria
madeira de cedro, que é muito mais resistente, não acolhe cupim e também não
umedece quando chove” Explicou a cacique.
O tempo
de duração das construções indígenas, em média, é de uma década. Embora o termo
de bioconstrução seja uma palavra atual, na prática, é uma técnica milenar
utilizada pelos indígenas, buscando um regresso às origens. Na aldeia que
existe a pouco mais de um ano, vivem cerca de 7 famílias, que somam 30 pessoas,
em sua maioria crianças. A construção da escola propõe uma educação
diferenciada, intercultural e comunitária para os pequenos indígenas,
conforme define a Legislação Nacional que fundamenta a Educação Escolar
Indígena posta pela Constituição Federal de 1988.
Localizada
às margens da BR-101, no Morro dos Cavalos em Palhoça - SC, o nome Yakã Porã em
Guarani significa Bem Viver. A aldeia já conta com uma horta cheia de
variedades, cuidada por todos e com uma atenção a mais pelo Xamã da Aldeia,
José. Quase todos os dias são plantados o alimento, desde verduras, frutas a
plantas medicinais. O professor João junto com o Xamã José, compartilharam
saberes sobre as atividades de agricultura e, no final, trocaram sementes
crioulas a fim de promover a economia solidária. Foi uma verdadeira aula para
os que estavam presente.
“O nosso objetivo aqui de construir a escola é
educar as crianças da nossa aldeia, porque a gente perdeu muito da nossa
cultura, como a questão da natureza. A gente ficou muito fora e agora é a hora
da gente voltar, voltar para a nossa raíz. A gente cuida da terra, para a
natureza crescer, por isso, as sementes trazidas marcam, elas se tornarão
raízes.” Elizete Antunes
A aldeia
ainda é nova, mas já sofre com um problema antigo, assim como nas demais
aldeias do Morro dos Cavalos, são recorrentes as invasões e ameaças aos
indígenas associado a interesses territoriais. Hoje existem no Brasil cerca de
51 mil indígenas da etnia Guarani. Segundo o censo da FUNAI (2010), são 225
povos vivendo no Brasil. O professor João Monteiro falou sobre o período onde
os europeus colonizaram os indígenas, e como a língua foi uma das
características que contribuiu para a escravização dos povos que aqui já
viviam.
“Hoje as
mulheres indígenas, vivenciam um trauma do passado, porque hoje em qualquer
aldeia que você for, você vai encontrar índio de roupa, aí vão me perguntar,
mas índio não andava pelado? Andava. A roupa que a gente usa hoje, é um trauma
que carregamos na nossa vida. Porque antes, nossas indígenas andavam pelas
matas nuas, sem maldade, mas elas eram violentadas, estupradas, assediadas.
Essas roupas que usamos hoje, é um trauma que vem lá dos nossos antepassados”
A missão
de Elizete é o resgate da cultura, uma boa educação para as crianças e a
convivência de forma consciente com a natureza. Depois que a escola estiver
pronta, o próximo passo será a construção na OPY (Casa de reza em Guarani), que
será assim como feita por seus antepassados de barro, palha, chão batido, e de
muita oração.
"Assim,
a Unisul Comunitária cumpre sua missão identitária de educadora cultural, ou
seja, ajudar cada cultura a explicitar para si mesma e para as outras o seus
valores." afirma Professor Jaci.
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