Nosso Congresso e o funeral de Augusto, velho sábio
Na tarde de terça feira, 9 de maio, o professor Dr.
Jaci Rocha Gonçalves acompanhado dos estagiários Danilo Garcia e Leonardo
Santos e da advogada voluntária do Revitalizando Culturas, Myriam Righetto, estiveram
na aldeia Mbyá-Guarani do Morro dos Cavalos para encaminhar o 2º Congresso
Internacional Revitalizando Culturas sobre Indigenismo e a 14ª Semana Cultural
Indígena na Unisul campus Norte.
Mesmo com o compromisso de Audiência Pública das
lideranças guaranis, o trabalho não foi interrompido. Foram apresentados
modelos de cartaz e arte para toda a propaganda do evento, bem como as recomendações
dos indígenas sobre os componentes do Comitê Científico e Comissão Organizadora.
Na chegada da equipe Revitalizando Culturas, o
comunicado de que o sepultamento do Xeramõi de Imaruim, Augusto, havia sido
pela manhã. Ele foi ao encontro de Nhanderu (Deus). Aweté (Deus abençoe!).
Leonardo Santos
Estagiário Revitalizando Culturas
Professor Jaci Rocha Gonçalves e Xeramõi Augusto Foto: Arquivo Revitalizando Culturas |
O
professor Jaci deixou esse recado sobre seu velho amigo:
Até logo, Velho Índio Sonhador
Visível no semblante de todos o sentimento de perda
e reverência. De fato, Augusto da Silva Karaí Tataendy foi, de certa forma, o
Moisés para as comunidades guarani de Santa Catarina. Foi ele quem soube
escutar Nhanderu em sonhos que lhe pedia reavivar alguns espaços sagrados para
seu povo querido em Santa Catarina.
Certa vez, na aldeia Marangatu, de Imaruí, o Karaí
descreveu seu caminho onírico em pormenores para mestrandos de Saúde Pública da
Unisul. Contou que saíra do Paraná há 50 anos em direção a Missiones, na
Argentina; depois de cerca de duas décadas caminhou para o Oeste do Rio Grande
e periferia de Porto Alegre.
Era por volta de 1991, quando tive a honra de
conhecê-lo acampando com seu povo num pequeno espaço em Terra Fraca, às margens
da 282, em Palhoça (SC). Inesquecível o momento de concretização do sonho
quando em 31 de dezembro de 1993 declarou emocionado na TV sua gratidão a uma
juíza de Palhoça por devolver 11hectares no vale do Maciambu a seu povo.
“Agradeço a sra. Juíza porque a gente só precisa mesmo de uma ‘terrinha’ prá
morar, trabalhar e rezar. O sonho de Nhanderu (Deus) já está se realizando.
Aweté, Nhanderu!”
Após a recuperação do Morro dos Cavalos, foi para a
aldeia de Marangatu (Lugar do Sonho) onde vivia há mais de 20 anos em Imaruí
(SC). De sonho em sonho, o Moisés guarani, continua vivo
como símbolo de fé, entrega e sabedoria. Obrigado, guerreiro da paz! Suas
lembranças numerosas reanimam nossos passos e de seu povo no caminho em busca da
Terra Sem Males.
Professor Dr. Jaci Rocha Gonçalves
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