Espiritualidade, carnaval e trote
Espiritualidades no timing da vida.
Escrito por: Jaci Rocha Gonçalves
O que tem a ver carnaval e trote com espiritualidade? Vejamos.
O carnaval de fevereiro de 2016 trouxe espetáculos de beleza criativa, reflexão
alegre e o efeito-surpresa da volta de milhares de blocos no carnaval de rua.
Aqui, no campi da Unisul Pedra Branca, temos refletido que a
ciência filosófica da estética inclui as artes e as religiões como nossas
construtoras de sentidos – para isso usam o símbolo, o que significa do grego
(sin-bolein) aquilo que une; antônimo de diabólico (dia-bolein), o que divide.
Na festa onde falam os símbolos, como no carnaval, ocorre um
pouco esse paradoxo: leva-se para a rua o símbolo que possa fortalecer os
sonhos de justiça de uma comunidade. A forma é brincar com a inversão de papéis
do cotidiano pela fantasia: A autoridade vai pra rua e o povo é quem fica no
palco.
Lembrei-me desse conceito no livro Festa dos Foliões de
filósofo culturalista Harvey Cox, que li nos idos de 1970. Mostra que a gênese
medieval das festas carnavalescas (carne vale = importa o canal, o que sente o
lúdico) era período indispensável antes da quarentena de meditações sobre a
vida, o sofrer, o morrer e ressurreição de Jesus.
O carnaval é espaço para a fantasia, brinquedo, imaginação.
Este ano, alguns desfiles dos sambódromos de São Paulo e Rio pareciam uma
procissão de fé, com enredos sobre a Virgem Maria, a flagelação de Jesus, a
história de São Jorge, a humanidade diante dos mistérios e dos valores
ecológicos.
O mesmo pode ocorrer com festas de ciclos universitários
como o trote e festas de formaturas, próprias de março. Harvey Cox ainda nos
desafiava como estudantes: “Estamos em condições de arranjar um lugar mais
seguro para a fantasia também em nossas escolas cognitivamente
superdesenvolvidas? Um renascimento da fantasia não precisa resultar na morte
do pensamento racional. Ambos fazem parte de toda cultura sadia.”
Festejamos o quê e para quem? Várias festas de trote
solidário têm sido ritos de passagem, em que o calouro faz gestos solidários e
consequentes com seus colegas de futura profissão junto à comunidade
vulneráveis. Assim, mais tarde, nas festas de formatura, dançarão a alegria de
assumir o juramento profissional perante o povo.
As festas permitem, assim, uma catarse psicofísica e uma
espiritualidade como fonte de saúde no ser das pessoas, porque podem subverter,
refazer e inspirar nossas opções mais profundas.
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