Não mexe com a minha YVY!
A Atlântica é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta e está correndo risco.
Prof. Dr. Jaci Rocha
Gonçalves
Mata Atlântica (Foto: GETTY IMAGES via BBC) |
Biomas tem ethos
Os biomas são ecossistemas com vegetação e clima de jeito tão próprio que são florestas com ethos (jeito de ser) único. Os seis biomas brasileiros são: Amazônia, Cerrado, Pampas, Caatinga, Pantanal e Mata Atlântica. A Mata Atlântica já nutria mais de metade dos mil povos originários que habitavam este continente tropical antes da invasão europeia em 1500. Ainda floresta 15% de todo o chão brasileiro e nutre 120 milhões de cidadãs e cidadãos; portanto, mais da metade da população e que residem nos 17 estados; desde AL, BA e CE, passando por GO, MG e MS descendo até SC e RS.
A Mata Atlântica
Como se vê, a Mata
Atlântica é o berço das maiores cidades e regiões metropolitanas do Brasil já
que se estende por todo o litoral. Cerca
de 70% da população brasileira vive no território da Mata Atlântica. A água que
abastece as cidades, e chega até as nossas casas, provem dos ecossistemas
equilibrados. Séculos de destruição das matas desenfreada, é um dos fatores que
tem contribuído com os problemas de crise hídrica, associados à escassez de
recursos essenciais para a existência humana.
São José de Anchieta: Mata Atlântica há 460 anos
José de Anchieta
escreveu em 1560, a Carta de São Vicente com detalhes da nossa rica biodiversidade
de nossas florestas tropicais. Papa Francisco o tornou santo e copadroeiro do
Brasil em 24 de abril de 2014. Uma memória rica de admiração e respeito aos
autóctones, bem na contramão dos colonizadores.
É cruel ainda hoje o nosso descuido com a natureza e a sua rica biodiversidade que oferece em seus serviços. Um ecossistema equilibrado oferece serviços
ecossistêmicos de relevância para a manutenção do ciclo da água, da flora, da
fauna, do clima que são fundamentais para a existência da vida no planeta. E
agora, como durante anos de industrialização, vem sendo destruída pelas mãos
humanas, no avanço de atividades insustentáveis e nocivas ao meio ambiente. Nós
nos temos comportado numa relação de violência matricida e que parece não mais
ter fim.
“Não mexe com a minha mãe!”
Junto à diversidade natural ameaçada, há uma grande diversidade cultural nas
comunidades de povos tradicionais indígenas,
os quilombolas, caiçaras, ribeirinhos,
que vivem ainda uma relação profunda com a natureza. Eles trazem
memória multimilenar desta relação afetiva e sagrada com a Mãe Terra; dependem dela
para sua subsistência, usam seus recursos de forma sustentável para alimentação,
para o artesanato e para a própria existência.
"Unidade na Diversidade"
Infelizmente, a Mata Atlântica está na lista dos mais ecossistemas ameaçados do planeta, da nossa Mãe Terra (YVY), como chamam os povos originários. Outro nome atribuído aos múltiplos significados a este pequeno ponto azul no espaço; de Gaia - deusa Mãe-Terra geradora do Cosmos, como a admiravam os gregos desde a Escola Pitagórica. Eles viam, pois, os biomas organizados de forma inteligente, compondo uma sábia e sagrada Unidade na diversidade.
Mas como calar o gemido que nossa Mãe Terra sente quando nesta parte preciosa de
seu corpo chamado Mata Atlântica acontecem tragédias ecohumanas como de Mariana
e Brumadinho e, em suas veias que chamamos rios, riachos e mares? Não será hora
de nos comportarmos como filhos ofendidos em sua dignidade quando dizem: “Opa,
pêra aí! Não mexe com a minha mãe!”
Há filhos
assim que organizam campanhas resilientes como os do SOS Mata Atlântica; e
muitas outras que não dão tréguas aos ecocidas. Muitas redes socioambientais usam
as ferramentas da era-pós digital, para ganhar força democrática na defesa do
meio ambiente e para a proteção e defesa da vida dos seres ecohumanos. Há,
infelizmente, os que se declaram devotos da banalização das vidas humanas; quem
dirá da biodiversidade que nos mantém vivos e cuida de nós. Proteger a Mata Atlântica é proteger a vida,
cuidar e respeitar a nossa própria casa, para todos nós agora, e para os que
virão depois de nós.
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