Espiritualidade no timing do cotidiano
Mulheres na contramão do descuido
Jaci Rocha Gonçalves *
Car@
amig@ leitor/a. Espiritualidade feminina tem sido sinônimo de biocracia, ou
seja, alguém que instintivamente se deixa governar pelo valor inalienável da
vida. Nas quebradas de fevereiro e março deste 2017 (=10) o feminino vem
perturbar todo esquema de violência à vida. Seja nas expressões de vidas
humanas, terrenais ou siderais.
Essa
determinação da mulher que parece genético-instintiva com o cuidado da vida está
sendo estudada por um aluno de Publicidade e Propaganda da Unisul. Preocupado, escolheu
pesquisar o como e o porquê sua mãe de 45 anos, mulheres mais novas e da
dita melhor idade celebram o
internacional Dia da Mulher em 8 de março. E como está a representação desse
Dia da Mulher na propaganda brasileira.
129 mulheres, Nova York, 1857 |
Meu aluno está impactado como a festa e o mercado sofrem de
amnésia, a doença do esquecimento, da perda de memória do fato celebrado. Neste
caso, a lembrança do dia de 1857 em que cerca de 129 mulheres morreram trancadas
e sufocadas pelo incêndio provocado em fábricas de Nova York nos EUA. Era uma
trágica represália à greve das trabalhadoras. Exigiam jornada diária de 8 horas
de trabalho ao invés de 16h/dia e direito a voto.
Em nosso contexto de crise da democracia, temos a presença
inédita em nossa história do feminino cuidadoso ocupando mais da metade das
vagas em nossas universidades, sobretudo nas atividades de educação e saúde. E
logo, logo, vamos vê-las com a caneta na mão definindo nossas políticas. Nesse
dia, será um concreto contexto de esperança para nossa espiritualidade
biocrática.
Não posso esquecer de listar as mulheres teólogas católicas,
muçulmanas e anglicanas que discutem sem medo esse lado biocrático do cuidado com a vida, inerentes
aos livros sagrados de revelação das grandes religiões judaico-cristãs e
islâmicas.
E a festa dos 300 anos da padroeira Nossa Senhora Aparecida que
está fazendo cair nossa ficha: sua presença negra rebelde pescada no rio
Paraíba antecipou por 171 anos o grito pela libertação dos escravos. Fato que
mereceu memória até no desfile de carnaval de 2017: mais parecia procissão em
forma de samba dançado pela Escola de Samba paulistana da Vila Maria.
Nessa mesma vibe, partilho
ainda com você a graça da entrevista para o Programa de TV Educação e Cidadaniade Maria Odete Olsen. Foi na paróquia de Capoeiras com cenas no prédio que substituiu a velha casa da Orionópolis na DibCherém, 492. Faz 30 anos do trabalho biocrático do Projeto Turminha, hoje, CEDO(Centro Educacional Dom Orione) com crianças carentes . Na parede de uma sala
cheia de máquinas de costura vi a foto de Salete, esposa de um amigo empresário.
Foi quem reuniu as primeiras de centenas de voluntárias. São mais de 4 mil vidas
com cidadania protegida por educadores corajosos. O câmera vibrava lembrando o
movimento de que participou quando menino. Uma menina dizia que sua mãe também
foi educada ali.
Sempre na mesma contramão do descuido, vibrei ainda com o
convite da jornalista da Arquidiocese de Florianópolis, egressa da UNISUL, para
outra entrevista inédita: quais possíveis
lições biocráticas de amor aos biomas,
as tradições indígenas poderiam nos indicar para a Campanha da
Fraternidade 2017. Sugeri, então, que ela entrevistasse uma recém graduada
guarani, mãe de três filhos e vovó, permitindo que os indígenas falassem por si
mesmos. Você precisa conferir o resultado.
Vamu que vamu nesse cordão feminino da esperança:
biocrático, ridente e transformador.
*Padre Casado, Doutor em Teologia, Filósofo,
estudou Comunicação no Vaticano e é Professor da Unisul.
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