Palhoça, Mariana e Paris: O caos é fértil?

Espiritualidades no timing da vida.
Escrito por: Jaci Rocha Gonçalves

Nesse momento em que novembro nos cobra revisão de 2015 e dezembro nos pede programação para 2016, penso no que tem a ver Palhoça com as duas tragédias do finado novembro. A tragédia de Paris, crimes hediondos do grupo de fanáticos religiosos Estado Islâmico e a tragédia dos crimes socioambientais em Mariana (MG) por suspeita de descuidos da Vale do Rio Doce S.A. e da Anglo-australiana BHP Billiton.

Em Paris, a violência humana mais poderosa, ou seja, matar ou morrer como garoto-bomba em nome de Deus, esperando o céu por recompensa. Historicamente, temos exemplos de sobra de que extremistas com razões religiosas chegam rápido ao máximo grau de violência. Para franceses cristãos, ateus e muçulmanos, fica o velho desafio do convívio respeitoso com o diferente, assumida em 10 de dezembro de 1948 na Declaração dos Direitos Humanos.

Quanto a Mariana, com sua tragédia de crime socioambiental, em parte é problema antigo. Por quatro anos trabalhei na região às margens do rio Xopotó que depois se torna Rio Doce até ligar Minas ao Atlântico pelo Espírito Santo. Gerações de comunidades são exploradas pelos donos de minas. Vivem no subsolo como nossos mineiros das minas de carvão no sul-catarinense. Condenados a doenças crônicas e a envelhecerem antes dos quarenta anos. O fruto do trabalho continua exportado para os países ricos. É de chorar ao ver aquele mingau de minério venenoso correndo a 60 km por hora como gigante líquido ecocida de rios e mares.

Mas o caótico não pode destruir nossa esperança teimosa e ancestral. No 8º UniDiversidade do Revitalizando Culturas da UNISUL na Pedra Branca e EAD em novembro 2015 insistimos sobre esse tema essencial: SOMOS CUIDADO e não apenas TEMOS CUIDADO. Ser humano que não É CUIDADOR já adoeceu no seu ser, as outras doenças pessoais e coletivas podem apenas ser conseqüências. Esperamos que em Paris, na Conferência do Clima, assinemos a Declaração dos Direitos da Natureza.


É utopia factível também aqui em Palhoça. Achei como exemplo, um recorte de jornal de 1995 sobre meu título de cidadania honorária.  Minha mãe Dona Cristina leu essa parte do meu texto de gratidão: “Não permitas, querida Palhoça, que banalizem a vida dos que nasceram em teu chão ou vieram de longe; Não permitas a morte fácil em tuas estradas; (...) Age com pulso firme na proteção dos teus rios e mangues, para que teus filhos e filhas não sofram com as enchentes.” 

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