Pedra Branca e a Espiritualidade da Montanha
Artigo publicado no Jornal Cotidiano Pedra Branca
O repórter
sexagenário me perguntou: Professor Jaci, quando surgiu a ideia de subir o
Morro da Pedra Branca e lá no alto rezar missa?
Na verdade, as
missas no Alto da Pedra Branca recomeçaram na primavera de 1987. Eu disse ao
repórter que rezar missas nas montanhas, sob o templo do tempo, ou sobre as
pedras da Praia da Joaquina, para acolher o primeiro sol do ano é um costume;
provável fruto de herança plantada por alguns sábios na minha infância e
adolescência. Disse-lhe que talvez essa herança poderia ser resumida como “a
espiritualidade das montanhas”.
Os sacerdotes,
nossos educadores no seminário, aos pés da Serra do Mar, em Siderópolis, sul de
Santa arina, nos inícios dos anos 60, promoviam longas caminhadas de fins de
semana nas montanhas. Organizávamos os grupos no dia anterior e saíamos de
madrugada para enfrentar os desafios. Resultado: aprendi um jeito de olhar pro
alto e, desde as alturas, educar o olhar sobre a vida na planície com seu
cotidiano de cidades.
Mais tarde, quando
jovem padre no Paraná, já na década de setenta70, eu levava as comunidades da
região de Curitiba para o Morro do Anhangava, retomando o costume de rezar
missa naquele topo estratégico durante a segunda guerra mundial. De fato, ali
se tem a visão do litoral e de todo o planalto paranaense. Contavam os mais
velhos sobre um frei que animou a construção de uma grutinha dedicada à Nossa
Senhora da Paz, pedindo pelo fim da guerra. O costume foi interrompido na década de 50.
Um ano antes de
mim, em 1975, um padre sonhador, chamado José, recomeçou a peregrinação e eu o
substituí como quem assume o compromisso de manter acesa uma espécie de “tocha
olímpica de esperança”. Na verdade, eram tempos proibidos de reuniões, de
afirmação de cidadania e de educação para uma liberdade responsável. Tínhamos
sempre a companhia da polícia política; mas conhecíamos todos.
A multidão se
reunia em 1º de maio e na chegada da Primavera. Virou tradição. Chegamos a
fazer muitas missas no alto do Morro do Anhangava. A tradição continua até
2015: os netos e bisnetos testemunham no Facebook
que o fascínio da Espiritualidade daquela Montanha está passando de geração em
geração. Parece até mesmo um santo remédio holístico, porque nos ajuda a
reequilibrar na corda bamba da arte do bom viver e conviver.
A espiritualidade
da montanha na forma de Pedra Branca é um fascínio à parte que também tem
inspirado o cotidiano de gerações. Se você quiser desfrutar por antecipação o
restante da resposta ao velho repórter, curta sobre o Morro da Pedra Branca, o documentário ELA: https://www.youtube.com/watch?v=jDDOLiK44nw
Jaci Rocha Gonçalves é Padre, Doutor em Teologia, Filósofo,
estudou comunicação no Vaticano e é Professor da Unisul.
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